14 de novembro de 2009

Deus Mulher

Do outro lado do envolver-te
em fantasia e beijos
fica o mundo que eu quero
e o ser que sou...

O homem é quanto sente
e o amor um pouco da loucura
dos deuses, que ficou;
e Deus se existe
deve ser mulher
que assim te fez,
próxima e distante,
um pouco de mim mesmo,
sonhar de toda a gente.

Luís Rosa in Poemas de Amar e Pensar um pouco



23 de outubro de 2009

Deslize da Lágrima...

Ela abriu os olhos devagar, a luz feria-os, como se os abrisse pela primeira vez. Levou tempo até conseguir ver. Não se lembrava do que sucedera, nem o porquê de estar num quarto de um hospital, contudo, sentia a cabeça a latejar e todo o seu corpo dorido.
Foi então que o viu. A cabeça deitada sobre a cama e a mão sobre a dela. Tentou levantar a mão, acariciar-lhe o cabelo, mas tal gesto simples, quase se tornava impossível, sentia muitas dores… ao fim de algum esforço conseguiu, por fim, afagar-lhe o cabelo e chamou-o baixinho:
- Rodrigo
Ele despertou, levantando a cabeça instintivamente. Tinha um olhar cansado, de quem há muito não dormia, sorriu de felicidade ao mesmo tempo que pequenas lágrimas começavam a rolar pelos seus olhos.
- Como te sentes? Murmurou num tom de voz que denotava uma mistura de alívio e cansaço.
- Que aconteceu?! Perguntou ela cansada.
Ele apertou a mão dela com força e o sorriso foi substituído por um ar triste.
- Não te recordas do que aconteceu?  Apertou ainda mais a mão dela, limpou a cara e continuou.
- Não faz mal, estas aqui…estamos juntos. Completou ele, sorrindo e beijando-a suavemente na testa.
- A quanto tempo estou aqui? A única coisa de que me lembro…é de descer a rua para ir ter contigo. Depois…não me lembro do que sucedeu depois. Sussurrou ela, notava-se fragilidade na sua voz.
- Isso foi à 6 dias atrás. Ligaste-me…tinhas uma surpresa para mim e pediste-me para nos encontrarmos no nosso café. Disse ele, de semblante carregado. A sua voz ficou como que rouca por momentos.
- Quando vi o carro atropelar-te… Disse fechando os olhos com força, como se quisesse apagar da sua mente a imagem. As lágrimas rolaram rapidamente pela face.
Ela levantou levemente a mão e limpou-lhe o rosto.
- Joana… Na tua voz denotava-se mágoa.
- Já sei o que me querias contar naquele dia… o motivo do nosso encontro. O médico disse-me… Lamento! Disse começando a chorar desolado.

Ela olhou para ele e na sua face “fez-se luz”, relembrou o motivo, o porquê do seu encontro. Naquele dia soube que ambos seriam pais. Seus olhos marejavam lágrimas, abraçou-o com força sobre seu peito.
- Desculpa... Disse, limpando as lágrimas.
- Não tens culpa… foi algo maior que nós os dois, não poderíamos imaginar…que algo de tão terrível iria acontecer.
- Mesmo assim, devia… não sei, talvez ter tido mais atenção…Disse tentando limpar as lágrimas dos seus olhos.
Ele abraçou-a com força, limpou-lhe os olhos e acariciou-lhe a face.
- Joana, por favor… nunca mais digas isso… é verdade que o que nos aconteceu, foi… Fez uma pausa. A verdade é que estas aqui! Estás viva e não te perdi também… estamos juntos e juntos poderemos ultrapassar a nossa dor. Eu não te deixo de amar pelo sucedido, estamos juntos para o bem e para o mal… quero estar contigo, do teu lado. Limpou as últimas lágrimas, sorriu e disse:
- A primeira coisa a fazer é recuperares e saíres do hospital…e depois…depois temos uma vida à nossa espera. A nossa Vida! Esperava que estas últimas palavras a animassem um pouco.
Ela olhou-o nos olhos e sorriu.
- Rodrigo…tu fazes-me feliz… mesmo quando a felicidade é o ultimo sentimento que existe.
Ele baixou-se e beijou-lhe as mãos.
- Sinto-me cansada.
- Aproveita para descansar um pouco. Eu vou lá fora, mas já volto para o teu lado. Amo-te muito, até já.
Beijou-a profundamente, olhou-a nos olhos e sorriu.

Percorreu o corredor limpando os olhos. Não queria deixar transparecer toda a emoção que lhe corria na alma. Sentia-se aliviado. Apesar da sensação de perda, ela tinha sobrevivido, poderiam continuar juntos. O Existir e a Vida, a partir daquele momento em que ela acordou, já não lhe pareciam tão devastadoras.
Parou junto da máquina de bebidas, não sabia o que escolher. A partir daquele momento tudo lhe pareceu igual e qualquer escolha que ele fizesse não teria qualquer significado, nem qualquer sabor, quando comparado com a dádiva daquele momento.
- Ela está bem… Era o único pensamento que tinha, esboçando um sorriso de satisfação e alivio.
Continuou distraído em frente a máquina, olhar perdido de quem se embrenhou bem dentro de uma floresta mental de pensamentos. Teria que ter força. Teria que ter muita força por ambos, mas principalmente para a ajudar a superar aquele momento tão delicado.
Uma sensação de arrepio fez com que voltasse a Realidade. Encontrava-se em frente a máquina das bebidas, onde um café o esperava, mas o que lhe despertou a atenção, foi o burburinho que se gerou ao fundo do corredor. Foi quando reparou na correria de enfermeiros que se precipitavam para o quarto onde estava Joana.
- Não!! Gritou correndo como se fosse a última coisa que fazia na Vida. Sentia abrir-se um buraco dentro de sim, uma cratera bem funda e fria.
Quando se aproximou da porta, sentiu um braço puxa-lo. Viu o enfermeiro que lhe impedia de entrar.
- Desculpe mas neste momento não o posso deixar entrar.
- Por favor, que se passa?! Deixe-me entrar… ela precisa de mim… Joana! Gritava ao mesmo tempo que começava a chorar desconsoladamente.
- Por favor, agora não. Aguarde aqui fora…o médico foi chamado, está lá dentro, tem de aguardar, por favor, penso que dentro de momentos ele virá a sua procura para explicar o que está a acontecer. Compreendo a sua situação, mas fique aqui comigo…
A muito custo, lá conseguiu conter algum do ímpeto que tinha, apesar da sua intenção ser a de querer entrar por aquele quarto adentro e agarra-la, com todas as forças que tinha, ajuda-la apesar de não saber qual a situação ou sequer o que tinha acontecido. Sentia-se impotente como nunca, e os minutos, que pareciam intermináveis horas, ajudavam a que a ansiedade crescesse dentro de si, como se fosse uma estrada na qual caminhasse sem nunca encontrar o fim.
O enfermeiro, esse continuava ali do seu lado tentando transmitir confiança, e fazendo com que alguma da ansiedade e desespero, que começava a apoderar-se dele, desaparecesse, porém, Rodrigo há muito que tinha desligado, perdendo-se novamente na sua mente. Quem olhasse para ele, via um rosto concentrado, de olhar choroso, mas ao mesmo tempo frio e distante, como se tentasse uma ligação mental com Joana.
Ao fim de meia hora a porta abriu-se e fez com que Rodrigo se levantasse da parede como uma mola. Foi então, que ao fixar o seu olhar no rosto do médico sentiu o mundo desabar. O seu mundo, fazendo-o cair prostrado no chão, de mãos na cabeça.
- Lamento. Fizemos tudo ao nosso alcance, mas ela acabou por sucumbir…



https://www.youtube.com/watch?v=PCb803x3AM0

2 de outubro de 2009

Enjoy the Silence

Uma sala escura, uma música que ecoa baixinho pela sala.
O palco está montado… Introspecção controlada, de tempo, espaço…de género, local.
É uma viagem pela alma… de resgate, de luta ou então, será de abandono…
Talvez seja mais uma intermitência…

Um copo meio vazio que se move na mão, fazendo deslizar o gelo.

Uma vida de questões que se movem pela mente. Os, “e se” que se acumulam e que tardiamente, ou nunca, teimam em não se tornarem certezas.

Um pouco disto, daquilo, mas que se vão acumulando em nadas.
Pensa-se, ” e se pudesse voltar atrás…”, contudo, é só mais um “se” que se deposita na mente, agregado aos restantes.

Tenta-se encontrar o coração, mas dele nem sinal.
Adormeceu à muito, esperando um dia poder despertar…

Bebe-se mais um gole…a garganta inflama.

Olha-se a janela procurando respostas…silêncio.
Mais um gole…

Deixa-se adormecer a mente, dormente e estagnada…

Coloca-se de parte todas as questões, desiste-se de pensar. Talvez, por cansaço... ou talvez assim, renunciando à busca, as respostas apareçam.

Epifania!
Aprecia-se a satisfação das batalhas travadas e o doce gosto dos poucos triunfos conseguidos…
Aprecia-se o conforto do sofá e o momento…
Aprecia-se a esperança e o sorriso que renasce…
Aprecia-se a Vida…

Shiuu…. Enjoy the silence!



http://www.youtube.com/watch?v=huDIF--HmPU

11 de setembro de 2009

28 de julho de 2009

Fado?!

"Que estranho destino é o meu que apenas me consente paixões ardentes e me faz esgotar em amores improváveis..."

José Manuel Saraiva - Aos olhos de Deus

23 de junho de 2009

Adeus Avô...

"Se depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas – a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra todos os dias são meus."


Fernando Pessoa




9 de maio de 2009

Never Ending Story ...

Era mais um dia comum, mais um dia imperfeito.
Calmamente, conduzia o carro indiferente a melodia que tocava no rádio. Não tinha em mente um destino definido, apenas sentia a necessidade de parar em algum sítio.
Estacionou o carro, rodou a chave e enquanto tirava o cinto do carro olhava em volta…frio no estômago, o coração disparou.
Fazia algum tempo que não a via, mas na sua mente para sempre ficou, aquele rosto e todos os traços que o compunham. Os seus olhares tocaram-se. Criou-se a dúvida na sua mente:
- Será que ela me reconheceu? Pensou
Ambos saíram do carro e o Destino fê-los novamente convergir para o mesmo sítio.
Ele aguardou na fila enquanto a olhava. A duvida persistia:
Será que me reconheceste?! Olha para mim de novo, mostra um sinal que me viste…
Sentia o pulsar louco do coração e a adrenalina a correr no corpo.
Esperava este reencontro a já algum tempo, mas agora não se sentia seguro de tal Teste. Pensava no que dizer e como o dizer, qual seria a reacção dela.

Ela virou-se olhando-o, respirou fundo e exclamou:
- Olá, tudo bem? Disse sorrindo como já a muito tempo não sorria.
- Sim, tudo e contigo, tudo bem também? Que fazes por aqui.
- Também estou bem, costumo passar por aqui para comer qualquer coisa antes de ir dar aula. E tu? Perguntou ele, já sabendo qual seria a resposta.
- Eu moro aqui perto.
- Sério, eu costumo passar por aqui várias vezes… Foi giro encontrar-te. Que tens feito, estás a trabalhar?
- Sim, estou num… Enquanto a ouvia falar, a sua mente fixava-se no seu rosto, marcado pelo tempo mas que ostentava a mesma beleza simples pela qual, em parte, se apaixonou fazia alguns anos. Sentia a garganta seca, sem conseguir produzir um som, até que, a custo conseguiu articular algo:
- Desculpa-me!
- Diz?!
- Desculpa-me… pelo que fiz e pelo que não fiz…
- Como assim?!
- Desculpa, pela mágoa e dor que te causei, por ter desistido... e pelo que não fiz. Por não ter tido a coragem suficiente de te dizer a Verdade, de não ter lutado, dado o melhor de mim por ti e pelo teu Amor… A sua mente ligou o botão que o fez voltar a realidade.
... Estive num infantário, mas houve uns problemas, fechou e tive a sorte de voltar parar o local onde estava antes. E tu?
- Vou trabalhando naquilo que vai aparecendo. Sempre a procura de algo que me de estabilidade.
- Tem de ser. Tenho de ir, gostei de te ver. Disse ela, sorrindo.
- Eu também gostei! Replicou rapidamente como se fosse das coisas mais importantes que tinha para dizer.
Beijou-a no rosto, sentindo novamente o toque da sua pele. O seu corpo sentia-se fraco novamente enquanto a olhava, vendo-a afastar-se. Olhou em frente, deu alguns passos e sentiu uma certa frustração. Uma ligeira irritação cresceu em si por ter desperdiçado aquela oportunidade.
Olhou, ela tinha-se sentado no carro.
- Ainda havia tempo! Pensou.
Correu…
- Olha, ainda tenho algum tempo antes de me ir embora, queres fazer-me companhia num café? Perguntou tentando esconder o nervosismo.
- Desculpa mas não vai dar, é que tenho uns assuntos para tratar.
- Ok… fica para um outro dia. Disse sentindo-se desiludido.
Boas Ferias…Festas quer dizer.
Naquela pequena frase, tinha transparecido, todo o seu estado de alma.
Ficou a vê-la afastando-se no carro, continuando a sentir um misto de sentimentos.
Resignado, encolheu os ombros, meteu as mãos nos bolsos e retomou o seu caminho.
Era mais um dia comum, mais um dia imperfeito…

http://www.clevver.com/music/video/197469/gavin-rossdale-love-remains-the-same.html




17 de março de 2009

Vozes

Vozes ideais e amadas
Daqueles que morreram, e daqueles que são
Para nós perdidos como mortos.

Às vezes nos nossos sonhos falam;
Às vezes no pensamento as ouve a mente.

E como com o seu som por um momento regressam
Sons da primeira poesia da nossa vida-
Qual música, à noite, longínqua, que se apaga.

Konstantinos Kavafis

Ps. Para ti Lena*

3 de março de 2009

Divagações

É engraçado…
Pensarmos que, de certa forma, fomos importantes para alguém. Que fomos ombro amigo, Força, Palavra… Confidentes, gestos e conforto.
Que, na nossa mente ficou a ideia que vincamos uma pessoa pela nossa forma de ser, de agir.

Mas, na realidade acabamos por nos tornar pequenos grãos de areia, indiferenciados, confinados ao Espaço e Tempo, enfiados numa ampulheta, tão iguais e sós, esquecidos.
Enfim, nada tivemos, nada fomos….Vivemos, alguns, em ilusões vãs, esperando um reconhecimento que breve, ou nunca, tarda em acontecer…