9 de maio de 2011

Desespero entre o querer ser e o não conseguir ser, Ser


Há vários anos que lido com uma condição. Um "Cancro" que me vai desbastando até aos ossos.

Que me entorpece a mente, que me faz fechar em mim próprio.
Dias tenho, em que o simples movimento, um passo, andar, é doloroso,  forçando-me a cair de joelhos.
Outros tenho, em que o simples acto de respirar, se torna um processo impossível. Que cada inspiração faz arder os pulmões, e a cada expiração me vou esvaziando, perdendo-me sempre mais

Tenho alturas em que sinto o corpo chegar ao limiar, um lento tilintar de cada órgão, como se me fosse desligar, afundar-me, mas que ao mesmo tempo, existe um choque, conflito para ligar o sistema, para manter o corpo à tona da água.

Sinto refúgio na solidão
Sinto conforto, nesta vida redutora.

Tenho uma condição. Um "Cancro" que dia-a-dia, me vai sugando cada vez mais.

Dias existem em que apenas me quero voltar a entrincheirar no isolamento de uma cama, fechar os olhos e deixar o tempo passar, mas, tenta-se arranjar uma réstia de força, um desgaste diário que me "obrigar" a levantar, colocar uma máscara, um sorriso, de forma a esconder todo o vazio que sinto ter.
É o querer me proteger daqueles que me rodeiam, porque não quero que percebam, não quero que se "preocupem", não me quero sentir sem propósito,  sem orientação, sem definição.

Sem planos, sem destino.
Sem sabor.

Tenho uma condição. Um "Cancro", que me torna num desassossego

Tenho dias em que me desgasto, em constantes lutas comigo próprio, entre o pedir ou não ajuda, em que me sinto bloqueado pela humilhação, pela vergonha. Outros tenho, em que ganhei alguma coragem, confiança, falei e disse que precisava de ajuda, apenas para esbater em indiferença, desconforto e criticas.
Perdi a confiança,.
Perdi a pouca capacidade de me exprimir, de dizer o que sinto

Sinto-me um zero.
Um inutilidade
Miserável

22 de fevereiro de 2011

Epitáfio

 "Somos feitos de átomos, dizem os cientistas, mas um passarinho contou-me que também somos feitos de histórias.."

Eduardo Galeano


2 de agosto de 2010

Lição de Vida

http://www.youtube.com/watch?v=dRTqFjflgto

Porque as vezes nos esquecemos de viver a Vida...

8 de abril de 2010

Diary Of a Mad Man

Olá Joana...
Mais um dia que desperta. Mais uma página que te escrevo...repleta de palavras que procuram dar sentido e significado a mais um dia vazio...
Todos os dias têm sido insuportáveis, uns mais que outros. Hoje, sei que vai ser um desses dias....Foi mais uma noite agitada, em que acordei envolto em suor com o teu nome escrito nos meus lábios.
Estes momentos, em que te tenho nos meus sonhos, fazem com que nunca mais queira despertar e enfrentar a Realidade. Como desejo poder para sempre, ficar nesta "zona cinzenta", neste limbo a que chamam Sonho.
Lembro-me perfeitamente...lembro-me de como te observava da ombreira da porta enquanto adormecias o nosso filho, segredando uma canção de embalar... de como chegaste até mim, do abraço trocado e das palavras que murmuraste sorrindo no meu ouvido, "Tenho orgulho em nós...e no nosso pequeno tesouro". Lembro-me do beijo longo, de me pegares a mão e de me conduzires até ao quarto... de nos termos consumido por entre as ondas dos lençóis. Do depois. De te observar, deitada sobre o meu peito, de sentir a brisa quente da tua respiração, de como a luz da rua, que entrava pelas frechas do estore, coloria as vertentes do teu corpo nu...mas foi só mais um sonho, mais uma percepção adulterada da Realidade.
Como sinto a falta dos gestos simples...custa-me fechar os olhos e não sentir o toque da tua mão, o carinho dos teus gestos e os teus beijos... as saudades em sentir o cheiro do teu cabelo... de te fazer sorrir ou apenas ouvir-te falar interminavelmente, sem nunca me cansar da tua voz. Mas, confesso que aquilo que mais sinto falta é de simplesmente nos olharmos nos olhos, em silêncio.
De bom grado daria a minha vida... trocaria. Abdicava de tudo para ainda te ter. Mas as probabilidades da Vida, de um deus maior, assim não quiseram.
E assim fiquei eu... um resto, um pedaço de vida ligado à tua ausência, mantendo-a viva através das palavras que escrevo neste diário, preservando a tua memória. Sobrevivendo de pequenos nadas, dos teus traços, que reconheço nas mulheres que passam por mim na rua, do teu perfume que cheiro no ar e que me faz sentir que ainda estas viva, que a tua ausência é meramente temporária. Que estas paginas que escrevo não existem. Que não sofro, não choro...que não pereceste naquele hospital, naquele quarto...naquela cama.
É só mais um dia que nasceu, mais uma página que te escrevo..



14 de novembro de 2009

Deus Mulher

Do outro lado do envolver-te
em fantasia e beijos
fica o mundo que eu quero
e o ser que sou...

O homem é quanto sente
e o amor um pouco da loucura
dos deuses, que ficou;
e Deus se existe
deve ser mulher
que assim te fez,
próxima e distante,
um pouco de mim mesmo,
sonhar de toda a gente.

Luís Rosa in Poemas de Amar e Pensar um pouco



23 de outubro de 2009

Deslize da Lágrima...

Ela abriu os olhos devagar, a luz feria-os, como se os abrisse pela primeira vez. Levou tempo até conseguir ver. Não se lembrava do que sucedera, nem o porquê de estar num quarto de um hospital, contudo, sentia a cabeça a latejar e todo o seu corpo dorido.
Foi então que o viu. A cabeça deitada sobre a cama e a mão sobre a dela. Tentou levantar a mão, acariciar-lhe o cabelo, mas tal gesto simples, quase se tornava impossível, sentia muitas dores… ao fim de algum esforço conseguiu, por fim, afagar-lhe o cabelo e chamou-o baixinho:
- Rodrigo
Ele despertou, levantando a cabeça instintivamente. Tinha um olhar cansado, de quem há muito não dormia, sorriu de felicidade ao mesmo tempo que pequenas lágrimas começavam a rolar pelos seus olhos.
- Como te sentes? Murmurou num tom de voz que denotava uma mistura de alívio e cansaço.
- Que aconteceu?! Perguntou ela cansada.
Ele apertou a mão dela com força e o sorriso foi substituído por um ar triste.
- Não te recordas do que aconteceu?  Apertou ainda mais a mão dela, limpou a cara e continuou.
- Não faz mal, estas aqui…estamos juntos. Completou ele, sorrindo e beijando-a suavemente na testa.
- A quanto tempo estou aqui? A única coisa de que me lembro…é de descer a rua para ir ter contigo. Depois…não me lembro do que sucedeu depois. Sussurrou ela, notava-se fragilidade na sua voz.
- Isso foi à 6 dias atrás. Ligaste-me…tinhas uma surpresa para mim e pediste-me para nos encontrarmos no nosso café. Disse ele, de semblante carregado. A sua voz ficou como que rouca por momentos.
- Quando vi o carro atropelar-te… Disse fechando os olhos com força, como se quisesse apagar da sua mente a imagem. As lágrimas rolaram rapidamente pela face.
Ela levantou levemente a mão e limpou-lhe o rosto.
- Joana… Na tua voz denotava-se mágoa.
- Já sei o que me querias contar naquele dia… o motivo do nosso encontro. O médico disse-me… Lamento! Disse começando a chorar desolado.

Ela olhou para ele e na sua face “fez-se luz”, relembrou o motivo, o porquê do seu encontro. Naquele dia soube que ambos seriam pais. Seus olhos marejavam lágrimas, abraçou-o com força sobre seu peito.
- Desculpa... Disse, limpando as lágrimas.
- Não tens culpa… foi algo maior que nós os dois, não poderíamos imaginar…que algo de tão terrível iria acontecer.
- Mesmo assim, devia… não sei, talvez ter tido mais atenção…Disse tentando limpar as lágrimas dos seus olhos.
Ele abraçou-a com força, limpou-lhe os olhos e acariciou-lhe a face.
- Joana, por favor… nunca mais digas isso… é verdade que o que nos aconteceu, foi… Fez uma pausa. A verdade é que estas aqui! Estás viva e não te perdi também… estamos juntos e juntos poderemos ultrapassar a nossa dor. Eu não te deixo de amar pelo sucedido, estamos juntos para o bem e para o mal… quero estar contigo, do teu lado. Limpou as últimas lágrimas, sorriu e disse:
- A primeira coisa a fazer é recuperares e saíres do hospital…e depois…depois temos uma vida à nossa espera. A nossa Vida! Esperava que estas últimas palavras a animassem um pouco.
Ela olhou-o nos olhos e sorriu.
- Rodrigo…tu fazes-me feliz… mesmo quando a felicidade é o ultimo sentimento que existe.
Ele baixou-se e beijou-lhe as mãos.
- Sinto-me cansada.
- Aproveita para descansar um pouco. Eu vou lá fora, mas já volto para o teu lado. Amo-te muito, até já.
Beijou-a profundamente, olhou-a nos olhos e sorriu.

Percorreu o corredor limpando os olhos. Não queria deixar transparecer toda a emoção que lhe corria na alma. Sentia-se aliviado. Apesar da sensação de perda, ela tinha sobrevivido, poderiam continuar juntos. O Existir e a Vida, a partir daquele momento em que ela acordou, já não lhe pareciam tão devastadoras.
Parou junto da máquina de bebidas, não sabia o que escolher. A partir daquele momento tudo lhe pareceu igual e qualquer escolha que ele fizesse não teria qualquer significado, nem qualquer sabor, quando comparado com a dádiva daquele momento.
- Ela está bem… Era o único pensamento que tinha, esboçando um sorriso de satisfação e alivio.
Continuou distraído em frente a máquina, olhar perdido de quem se embrenhou bem dentro de uma floresta mental de pensamentos. Teria que ter força. Teria que ter muita força por ambos, mas principalmente para a ajudar a superar aquele momento tão delicado.
Uma sensação de arrepio fez com que voltasse a Realidade. Encontrava-se em frente a máquina das bebidas, onde um café o esperava, mas o que lhe despertou a atenção, foi o burburinho que se gerou ao fundo do corredor. Foi quando reparou na correria de enfermeiros que se precipitavam para o quarto onde estava Joana.
- Não!! Gritou correndo como se fosse a última coisa que fazia na Vida. Sentia abrir-se um buraco dentro de sim, uma cratera bem funda e fria.
Quando se aproximou da porta, sentiu um braço puxa-lo. Viu o enfermeiro que lhe impedia de entrar.
- Desculpe mas neste momento não o posso deixar entrar.
- Por favor, que se passa?! Deixe-me entrar… ela precisa de mim… Joana! Gritava ao mesmo tempo que começava a chorar desconsoladamente.
- Por favor, agora não. Aguarde aqui fora…o médico foi chamado, está lá dentro, tem de aguardar, por favor, penso que dentro de momentos ele virá a sua procura para explicar o que está a acontecer. Compreendo a sua situação, mas fique aqui comigo…
A muito custo, lá conseguiu conter algum do ímpeto que tinha, apesar da sua intenção ser a de querer entrar por aquele quarto adentro e agarra-la, com todas as forças que tinha, ajuda-la apesar de não saber qual a situação ou sequer o que tinha acontecido. Sentia-se impotente como nunca, e os minutos, que pareciam intermináveis horas, ajudavam a que a ansiedade crescesse dentro de si, como se fosse uma estrada na qual caminhasse sem nunca encontrar o fim.
O enfermeiro, esse continuava ali do seu lado tentando transmitir confiança, e fazendo com que alguma da ansiedade e desespero, que começava a apoderar-se dele, desaparecesse, porém, Rodrigo há muito que tinha desligado, perdendo-se novamente na sua mente. Quem olhasse para ele, via um rosto concentrado, de olhar choroso, mas ao mesmo tempo frio e distante, como se tentasse uma ligação mental com Joana.
Ao fim de meia hora a porta abriu-se e fez com que Rodrigo se levantasse da parede como uma mola. Foi então, que ao fixar o seu olhar no rosto do médico sentiu o mundo desabar. O seu mundo, fazendo-o cair prostrado no chão, de mãos na cabeça.
- Lamento. Fizemos tudo ao nosso alcance, mas ela acabou por sucumbir…



https://www.youtube.com/watch?v=PCb803x3AM0